Eram cerca de onze horas, a noite estava fria, úmida, e deserta, sem nenhuma alma viva vagando. Eu nunca fui muito de convívio social, aliás, nunca gostei de pessoas, elas fazem mal umas às outras sem terem motivos para tal. Sempre preferi os animais, estes agem extintivamente, não possuem mais de uma personalidade, e me reconhecem como superior. Os homens, ah os homens tem toda aquela coisa de se achar o topo da cadeia alimentar, quem foi que os convenceu disto? Eles com esta superioridade auto reconhecida tomaram meu espaço, agora tenho de viver acuado, me alimentando de segunda mão, e respirando este ar cinza que eles produzem. Pois bem, a situação já está criada e eu preciso sobreviver. Não que eu goste, ou que seja meu prato favorito, mas eu não tenho muitas escolhas.
Só dava para ouvir o barulho do orvalho escorrendo pelas folhas das árvores, quando como de costume, me enfiei sorrateiramente embaixo de um arbusto. Estava pronto para tudo, meu coração estava acelerado, pulsando fortemente, sentia a adrenalina se espalhar por cada célula do meu corpo, era capaz de sentir o ar gélido sendo inspirado, e se transformando no bafo quente que era expirado. Eu o vi de longe, sentia o calor de seu corpo se aproximando, seu cheiro de arrogante superior, imponente. Ele era bem forte e grande, vestia uma farda azul rota e empunhava um revólver - como se eu tivesse medo de revolveres -. Veio andando em minha direção sem me notar, os homens tem este defeito de não sentir o ambiente em que estão. Foi de fato uma desvantagem para ele guardar o revólver na cinta. Ele vinha tranquilo, como se nada temesse, assim que passou por mim o ataquei pelas costas, ele não teve tempo e nem chance de reagir, ataquei diretamente o pescoço, rasguei-lhe a jugular, e depois o rasguei inteiro - naquele momento ele não parecia um ser superior, quanto menos o topo da cadeia alimentar -. Tudo que restou foi um pouco de sangue no chão e em meu rosto, e alguns pedaços de carne nos meus dentes. De fato ele não era muito saboroso, mas era o que eu tinha no momento. Deixei o corpo jogado no mesmo local em que o ataquei, fui embora tranquilamente de peito erguido, afinal, eu sou o topo da cadeia alimentar.
Gabriel Ornellas
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