© Steve Mc'Currry. Shabat Gula.
Como se pode estar satisfeito com o mundo, a não ser quando nele se exile? (Franz kafka)
Steve McCurry | Fotógrafos
Steve McCurry começou sua carreira cobrindo a invasão soviética ao afeganistão como fotojornalista, o que lhe rendeu sua foto mais famosa, a menina afegã, Sharbat Gula, que foi encontrada sem burca por McCurry, na época, a lei afegã obrigava às mulheres a usarem burca. A fotografia estampou a capa da revista National Geographic e correu o mundo, a foto foi nomeada como a fotografia mais reconhecida. McCurry estudou cinema na Universidade do Estado da Pensilvânia em 1968 e ainda na universidade começou a fotografar para um jornal do campus, o The Daily Collegian. Além da invasão soviética, McCurry registrou outros conflitos internacionais como o do Afegainstão, Camboja, Filipinas, Líbano e a guerra do Iraque.
Gabriel Ornellas | Insonia
© Foto de Gabriel Ornellas, 2011
Outra inquietação, mais um pouco daquela situação, daquele vácuo. Me deixe em paz! Terei de me picar novamente, morrer com meu próprio veneno para que, quem sabe, agonizando nos últimos instantes que me restam ter um profundo e longo suspiro de vida? Preciso dormir, pra quem sabe, acordar. Preciso comer pra passar fome. Amar para que, com sorte, possa odiar. Eu não te disse isso! Quem disse que eu quero o contrário? Paz? Não me faça rir, pois rindo, a única coisa que me resta após é chorar, e ambos sabemos que não lido tão bem assim com isso.
Gabriel Ornellas | Um Pouco de Nada
© Foto de Gabriel Ornellas, Vazio, 2011
As vezes saio a procura um algo, que não sei onde está, de vem, e nem mesmo o que é, e certamente não o encontro. Procuro incansavelmente algo que nem sei o que é, mas que simplesmente preciso procurar. E nestes momentos, acabo encontrando algo além do algo que procurava, o Nada, o Vazio. Este vazio me preenche, pois tudo que não temos em tempos de tanta conturbação e informação, é o nada, o silêncio, o vazio. E tudo que preciso para encher-me a alma, é um pouco de nada.
Gabriel Ornellas | Sob a Aroeira
Foi outra daquelas expedições. A copa esverdeada dos arvoredos estavam floridas, uma tonalidade azul-avermelhado entapetava o chão, frutas silvestres. A sinfonia metálica dos grilos me geravam certa familiaridade. Sujeito curioso o Araquém. Encontrei ele às margens do Capibaribe acompanhado de se velho companheiro Gibraltar. O velho Araquém era destes tipos simplórios que cativam a todos, lembrava uma coruja de barba e óculos redondos. Nós passávamos horas tentando adivinhar os barulhos selvagens. O velho reconhecia pela respiração e pelo canto qualquer espécie de pássaros, “esse é o Pintassilgo laranja, e este, o Acauã!”, até parecia um deles. Isso quando não surgia Gibraltar afogado em baba com algum amarelo, as vezes um vermelho na boca. “Tomi a vida quiném se toma seu trabaio, quando se fica sem ela nun vai consegui mais trabaiá!”, o velho tinha razão.
Estava muito quente e uma sede ensurdecedora me tomava, minha bilha estava vazia e não tinha onde encher, pelo menos até o velho sumir. Trombei um mico, destes bem sacanas. O safado pulou em mim e ficou batucando em minha cabeça, pior é que o larápio tinha ritmo, uma mistura de jongo com maracatu, nem eu sabia que minha cabeça tinha tantos timbres. Por onde eu ia ele me seguia e aprontava alguma. Roubou meu óculos e ainda urinou na minha roupa. Tentei novamente arrancar algo da bilha, mas nada, seca como um inhame torrado. Foi então que o sacana pulou no meu ombro e falou ao meu ouvido, “Por debaixo da aroeira corre água pura e cristalina pra tua sede”, como pode? Sacana! Como podia pular de galho em galho como se tivesse asas de rapina? E embaixo da aroeira? Ele só podia estar me sacaneando de novo.
A aroeira estava carregada, mas água, nada vi. Só me restou subir na árvore e comer seus frutos vermelhos. Não sei por onde, mas como um orvalho ensaboado escorreguei e me estatelei no chão. Lá estava ele, a beira de um rio cristalino se deliciando com a água, parecia mesmo uma coruja barbuda de óculos, apenas me olhou e com um sorriso encharcado falou, “Calô né?”.
Gabriel Ornellas
Gabriel Ornellas | O Pensamento Ilustrado
O pensamento Ilustrado, um emaranhado de subjetividade. A arte como expressão do que se desconhece. Stop motion de cerâmica realizado frame a frame, foto a foto, de algum pensamento disperso. Diego Rocha e Gabriel Ornellas.
Gabriel Ornellas | Um Homem Livre
Nunca vi tamanha aflição. Alberto mal pode me ver e correu em minha direção, parecia estar cuidando de algo que mais se assemelhava a uma catinga, semiárida, do que propriamente dito um jardim. “Me tire disto!”, exclamou afoito, “não aguento mais! Preciso de ajuda... Por tudo que é mais sagrado, me ajude”, clamou desesperadamente. Não houve a necessidade de lhe perguntar o que o afligia, ficou claro que não o demoraria a fazer. “Eu já não sei o que fazer!... Preciso de repostas, necessito-as para minha sanidade”, não era para menos, indagação como aquela deixaria o mais são dos homens inquieto. “Porque ele me ignora?... Porque vago por entre a maior das mazelas humanas?”. Alberto sempre fora seguro, o melhor dos jardineiros, fazia com as plantas, sem grandes dificuldades, o que bem entendesse.
“O que se passa com este jardim? Porque tamanha secura?”, perguntei tentando aliviar a tensão do homem, “isto é o maior sinal de meu abandono!... Como ele fez isso comigo?... Sempre soube lidar com a vida, e hoje mal posso com a minha!”, nunca vi nada igual aquilo, o solo estava seco, rachado, sem nenhuma possibilidade de vida. Nenhuma flor, nenhum fruto, nenhuma semente. “Como posso viver se nem sei de onde vim?... Por quê?... Porque ele me abandonou?... Ele não tinha o direito de me deixar nesta aflição! Sempre lhe fui servil, fiel, sempre acreditei em sua imensa bondade... Mas como pode ser bom se permite que eu fique assim? Abandonado, sem respostas?”, dizia-me desesperadamente. “Alberto, você sempre cuidou de suas flores, elas germinavam, floriam, davam frutos, cumpriam seu papel”, “Seu papel?”, interrompe-me elevando a voz, “e qual seria o papel delas?”, indagou irritado, “seguir o caminho que eu designava para elas, se contentar com a quantidade de luz, de água, de nutrientes, que eu proporcionava para elas?... E depois?... Depois elas devem morrer?... Sem se darem conta de todo o infinito que existe além daquela estufa?”, questionava-me o homem, “Por quê?... Porque isso aconteceu comigo?”, suplicava-me, “maldito livre arbítrio!... Eu sempre lhe fui fiel, sempre acreditei em sua grandeza, e de que adiantou?... Ele me abandonou, permitiu que eu o traísse... Porque ele permitiu?... Quem disse que eu queria esta liberdade?... Porque? Porque?”, era angustiante ver a situação daquele pobre homem, eu nada poderia fazer, sozinho ele se colocou naquela situação e somente sozinho poderia sair dali. Alberto estava atônito, faltava-lhe vida, a vida que ele mesmo, racionalmente, se tirou. “Eu não aguento mais!... Este silêncio me perturba... O livre arbítrio é a pior das mazelas humanas, eu não quero esta liberdade”, afirmava com fervor, “Por quê?... Porque ele permitiu que eu não acreditasse mais nele?... Eu era feliz!... Sim, eu era feliz acreditando que minha vida era pré-determinada... E agora, o que eu faço? Porque ele permitiu? Porque me deixou neste abismo?”. De fato a situação daquele homem era angustiante. Ficara vagando pela escuridão do próprio pensamento. Poucos sabem lidar com a possibilidade de escolha, e não era o caso daquele pobre homem.
Gabriel Ornellas
Gabriel Ornellas | De Portas Vazias
No começo foi apenas um pesadelo que se repetiu muitas vezes, acordava assustado, o pesadelo se transformou em conto, o conto inspirou um curta-metragem, e hoje o pesadelo se tornou um sonho, um devaneio. Curta-Metragem baseado no conto Portas Abertas.
Gabriel Ornellas | Portas Abertas
Pai! Mãe! Tem alguém aí? Mas que merda, não tem ninguém em casa de novo. já estou de saco cheio desta putaria. Que fome! Além de saírem de novo sem me chamar, não deixaram nada pra comer. Parece que eu não existo! - O perfume adocicado e enjoativo de minha mãe ainda esta no ar, eles devem ter saído à pouco. - Se ao menos tivessem deixado dinheiro para eu pedir uma pizza! Mas não, eles esquecem que tem outro morador nesta casa.
Esta tudo tão normal. A TV no mesmo canal infame de sempre, os tapetes bem escovados, as bebidas do bar, os contratos do meu pai, só a limpeza que está impecável. - Parece até quando íamos viajar e minha mãe mandava faxinar a casa inteira, como se fosse colocar à venda. - Escutei barulhos na cozinha, deve ser o desgraçado do gato do vizinho tentando comer os restos de cima da mesa. Ué, não tem nada em cima da mesa, quanto menos o infeliz do gato, aliás, cadê as porcelanas da minha mãe? A prataria? Os armários estão todos vazios cheirando a álcool. A geladeira desligada sem nada dentro. O quarto também está vazio, a cama muito bem arrumada, os armários vazios, de portas abertas.
Escutei risos, eles devem ter voltado. Pai! Mãe! Não há ninguém aqui, só as cortinas de seda balançando suavemente com a brisa da chuva que se anuncia. Não demorou muito uma fina garoa rompeu a noite fria. As janelas estavam todas abertas, não havia porque fechá-las. Quem desligou a TV? Cadê as bebidas do bar? Os papeis? Fui até o quarto passar o tempo até que alguém chegasse. Estava tudo diferente. Tudo eximiamente arrumado, meu computador não era este, este parece de mentira. A escrivaninha estava limpa, sem nada em cima, apenas um bloco de papel em branco e três novos lápis. A planta que ficava ao lado do computador era artificial. - Não me recordo de ter comprado nada artificial. - Sentia frio, muito frio, fui pegar uma blusa e nada encontrei. Armários vazios, de portas abertas. Só restou minha velha mochila rasgada com alguns desenhos dentro e uma ponta. Escutei vozes felizes vindo da sala. Pai! Mãe! Vocês voltaram?
Gabriel Ornellas
Gabriel Ornellas | Convite Para Uma Viagem
Uma breve reflexão. Um exercício. Um Devaneio. O nosso Convite Para Uma Viagem, tem como foco principal a fé. Em tempos em que constitucionalmente, nos classificamos laicos, agnósticos, e em quase a totalidade dos órgãos públicos ainda encontramos crucifixos pendurados na parede, buscamos a reflexão, bem como, o respeito para, e entre todas as doutrinas religiosas. O intuito aqui, não é colocar em xeque nenhuma religião, e sim demostrar que, a fé, qualquer que seja, pode ser um ótimo norte para o nosso caminho, pois em tempos em que a subjetividade reina, é necessário ter no que acreditar para não ficar vagando por entre os longos corredores da racionalidade humana. Lenon Oliveira e Gabriel Ornellas.
Gabriel Ornellas | Unhas e Dentes
Eram cerca de onze horas, a noite estava fria, úmida, e deserta, sem nenhuma alma viva vagando. Eu nunca fui muito de convívio social, aliás, nunca gostei de pessoas, elas fazem mal umas às outras sem terem motivos para tal. Sempre preferi os animais, estes agem extintivamente, não possuem mais de uma personalidade, e me reconhecem como superior. Os homens, ah os homens tem toda aquela coisa de se achar o topo da cadeia alimentar, quem foi que os convenceu disto? Eles com esta superioridade auto reconhecida tomaram meu espaço, agora tenho de viver acuado, me alimentando de segunda mão, e respirando este ar cinza que eles produzem. Pois bem, a situação já está criada e eu preciso sobreviver. Não que eu goste, ou que seja meu prato favorito, mas eu não tenho muitas escolhas.
Só dava para ouvir o barulho do orvalho escorrendo pelas folhas das árvores, quando como de costume, me enfiei sorrateiramente embaixo de um arbusto. Estava pronto para tudo, meu coração estava acelerado, pulsando fortemente, sentia a adrenalina se espalhar por cada célula do meu corpo, era capaz de sentir o ar gélido sendo inspirado, e se transformando no bafo quente que era expirado. Eu o vi de longe, sentia o calor de seu corpo se aproximando, seu cheiro de arrogante superior, imponente. Ele era bem forte e grande, vestia uma farda azul rota e empunhava um revólver - como se eu tivesse medo de revolveres -. Veio andando em minha direção sem me notar, os homens tem este defeito de não sentir o ambiente em que estão. Foi de fato uma desvantagem para ele guardar o revólver na cinta. Ele vinha tranquilo, como se nada temesse, assim que passou por mim o ataquei pelas costas, ele não teve tempo e nem chance de reagir, ataquei diretamente o pescoço, rasguei-lhe a jugular, e depois o rasguei inteiro - naquele momento ele não parecia um ser superior, quanto menos o topo da cadeia alimentar -. Tudo que restou foi um pouco de sangue no chão e em meu rosto, e alguns pedaços de carne nos meus dentes. De fato ele não era muito saboroso, mas era o que eu tinha no momento. Deixei o corpo jogado no mesmo local em que o ataquei, fui embora tranquilamente de peito erguido, afinal, eu sou o topo da cadeia alimentar.
Gabriel Ornellas
Gabriel Ornellas | O Sono
Acordei assustado, não sei ao certo se estava dormindo, mas estava assustado. Enquanto dormia, sonhava muito em acordar, nem sei se estava dormindo. Lembro-me que sonhando sentia muita fome, aliás, nem sei como ela passou, e nem em que momento, apenas me assustei. De fato acordei assustado, mas não sei ao certo se estava dormindo. No sonho, me olhavam com indiferença, tinham piedade. Não tenho tanta certeza se estava sonhando. Dormia pesado, nada me tirava daquela situação, nem mesmo os cachorros que me faziam companhia, a propósito, os cachorros eram bem cuidados, recebiam carinho de todos que passavam, e eram muito bem alimentados. Os cachorros não pareciam estar assustados, quanto menos dormindo. Lembro de ter tomado alguns chutes e pauladas enquanto dormia. Será que estava dormindo ? O sono não acabava, quanto mais eu dormia mais cansado ficava. Mas eu nem sei ao certo se estava dormindo! Enquanto o sono não cessava, o sonho me confortava. Recebia chutes e pauladas, a indiferença e a piedade me faziam bem, dos cachorros eu não gostava muito, mas minha fome, ah minha fome, não sei porque ela me abandonou, só sei que acordei assustado.
Gabriel Ornellas
Gabriel Ornellas | Punta del Leste
Uma curta passagem pela cidade uruguaia, um curto ensaio... Detrás de uma cidade turística, ostentando luxo e riqueza, sempre há um povo local mantendo as tradições. Só depende do lado em que se olha. Punta me deu grandes recordações e algumas fotos. "O mundo como você o vê é o reflexo de quem você é" (Einstein)
Gabriel Ornellas | Cores Aires
Quando escuto Buenos Aires a primeira palavra que me vem a cabeça é colorido. Capital da Argentina, a cidade representa a típica cidade latina, cercada por gente bonita e um povo receptivo e alegre. Da mesma forma que apresenta as qualidades, a capital apresenta os problemas de uma cidade de terceiro mundo, com altos contrastes sociais. Com um trânsito caótico, a cidade apresenta um certo ar de velho mundo, com um clima extremamente agradável, e cores exuberantes.
Ilhabela | Fotografia
Situado no litoral norte paulista, Ilhabela honra o nome. Residência da Princesa Isabel, um paraíso banhado por águas calmas, e certamente um promissor roteiro turístico. A todos que lá forem sugiro que curtam uma noite de samba de raiz no barraco do samba, situado na Vila, centro histórico do local. "Capital" da vela e do mergulho, a Ilha exibe paisagens deslumbrantes. Curtam algumas fotos realizadas no local.
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